Na parashá desta semana, leremos o primeiro parágrafo do Shemá, uma reza que representa a base da crença judaica. Depois de afirmarmos "Ouve, ó Israel, o Eterno, Nosso D’us, o Eterno é Um”, seguimos a tefilá falando sobre nosso amor por D’us e por alguns dos mandamentos básicos. Duas vezes por dia, “noite e dia”, o recitamos, e assim reafirmamos nosso compromisso com o Todo-Poderoso.
Em teoria, todos queremos ser bons judeus, e esperamos o mesmo de nossos filhos. Na prática, no entanto, tudo fica um pouco diferente: a maioria de nós, na maior parte do tempo, acredita que o preço desse compromisso é muito alto. Somos “criaturas de hábitos” e temos grande dificuldade em nos desfazermos deles. A lei física da inércia defende que “os objetos em repouso tendem a permanecer em repouso, enquanto que objetos em movimento tendem a permanecer em movimento”. Com os seres humanos acontece o mesmo: é raro encontrar um indivíduo que tenha a visão e a coragem de promover voluntariamente grandes mudanças em seu estilo de vida. Acomodamo-nos e, aparentemente, nos contentamos com aquilo que somos ou como estamos.
Muitos, infelizmente, só dispõem-se a examinar sua existência depois de confrontados com dificuldades ou tragédias. Em tempos de vulnerabilidade máxima, temos a tendência de gravitar para o santuário de nossa fé, na esperança de superarmos os tempos difíceis sob o abrigo do judaísmo – e esse momento de crise garante o impulso para a nossa aproximação de D’us. No entanto, quando não surge um obstáculo realmente poderoso, permanecemos com a alma “em repouso”.
Na parashá desta semana, nos encontramos frente a uma explicação alternativa para este versículo do Shemá: o amor de D’us, base de nossa fé, se faz presente na forma de um sentimento de conexão com o Criador, o que nos leva a viver de acordo com Suas expectativas. Essa é uma ligação que deve ser constante tanto durante o breu da noite – quando tudo é escuro e buscamos socorro – quanto sob a luz do dia, enquanto nos sentimos seguros. Buscar a conexão com D’us durante períodos difíceis é fácil. Mas quantos de nós são capazes de nos conectarmos mesmo quando sentimos apenas bons ventos soprando a nosso favor? É esta a reflexão que o versículo do Shemá recomenda: não espere um balde de água fria para reconectar-se com D’us. Faça-o em tempos de bonança para que o caminho seja escolhido simplesmente por prazer e pela consciência de que esse é o certo.
Shabat Shalom!
Rabino Eliyahu e Rivky Rosenfeld.
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